UM BATE PAPO COM O MÚSICO GAÚCHO DEMIAN

O bom gosto musical, herdado do pai, de bandas do rock progressivo inglês, dos anos 70, e o Pop dos anos 80, são as primeiras lembranças musicais do compositor gaúcho Demian. E após anos dedicando-se a banda “Astros & Nautas”, formada com amigos na capital gaúcha,  no início dos anos 90, grava o seu primeiro disco autoral e independente intitulado “ O Tempo que foi preciso”. Trabalho marcado por um hard rock de guitarras  pesadas, solos melódicos, e  letras que retratam o cotidiano. A seguir, entrevista e algumas das faixas do disco.
  Por: André Bona  

1- De onde surgiu a idéia do nome “ O Tempo que foi preciso”?
    Sempre gostei desse lance do conceito de um trabalho autoral, representado nas letras, melodias, imagens, cores, figuras e a relação disso com a vivência do autor. Ou seja, uma música pode ser representada muito além de sua fronteira sonora. Podendo assim ganhar inclusive novos formatos, como clip, livro, filme, documentário, peça teatral, entre outros. O Tempo que foi preciso, a faixa título, retrata a minha relação com a música, desde meus sonhos de criança, as dificuldades da vida que insistiam em adiar meu desejo autoral, as vivências com os “Astros & Nautas “ e a relação disso tudo com a minha visão do mundo atual. Enfim, a vida é um aprendizado constante que só o tempo pode nos dar.
Em termos gráficos, eu procurei vários significados que pudessem traduzir o tempo, como as linhas do cardiograma, um relógio refletido na areia, junto às marcas dos meus passos. De certa forma, existem traços nele, que remetem a algo que esta enraizado em mim desde que eu nasci: O álbum “The Dark Side of the Moon” do Pink Floyd. Esta obra prima, posso dizer que é o disco da minha vida.



2- Estaremos disponibilizando as faixas “ A poesia”, Ruas do Sertão” e “Á procura de um motivo” . Fale sobre essas 3 faixas do CD:
 “A Poesia Fala sobre quem se dedica a qualquer tipo de arte. Que usa dela para descrever a realidade, as suas angústias, sofrimentos, seus vícios. Da função social que a arte carrega, podendo criar um elo entre pessoas, vindo a defender interesses comuns, como problemas do cotidiano mal resolvidos.
“Ruas do Sertão”- Fala do eterno problema de seca do interior do nordeste, e que é uma realidade hoje vivida por todas as regiões do Brasil. Não podemos mais ser indiferentes, pensando que problemas de alguma localidade não possam de alguma maneira, ou mais cedo ou mais tarde, nos atingir. Que somos partes de um todo.


“ À procura de um motivo” – Sobre alguém muito solitário, e saudosista, que busca no passado o seu caminho, o sentido de sua vida. Letra que aborda também as questões do tempo, do que nos marcou lá trás, e levamos para sempre. Quanto mais respostas encontramos, mais perguntas ficam.


3- Já que você citou a dificuldade em se lançar com trabalho autoral, como você vê o mercado da música hoje?
    Como músico, antigamente tinha aquela idéia de gravar demos, e sair por ai distribuindo em gravadoras, e ficar torcendo pra que alguma viesse a se interessar e te procurasse para assinar contrato e assim, pensar em carreira, vários discos, muitos shows, fama, etc. Passei anos indo pessoalmente em gravadoras, metendo a cara e tentando falar com os responsáveis, ouvindo muitos nãos, frustrações até entender que não há outro lugar senão no palco para você acontecer. É realmente na estrada, fazendo muitos shows e fazendo público que o artista realmente se forma. E é atrás dessa relação que a indústria vai, ou ia. Porque nos últimos anos, temos visto gravadoras fechando, o CD com suas vendas em decadência, e tudo isso devido à revolução que a internet proporcionou. Acho que ainda não estamos sabendo de fato como lidar com tudo isso. É confuso para quem pensa em poder viver disso, ter músicas disponibilizadas a venda e ao mesmo tempo gratuitamente. Nunca foi tão fácil divulgar e espalhar as músicas pelo mundo. E não se pode lutar contra isso, porque é da nossa evolução.


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