Fanatic Media Group: Eu queria fazer um resgate desde o seu início na música. Você lembra quando começou a se interessar por música e se teve uma alguma que o fez despertar para querer seguir essa carreira?
Ash Rexy: Eu acho que tinha uns 14 anos de idade, meu pai tocava violão e eu decidi aprender, ele ficou bem feliz por um tempo achando que eu iria tocar MPB e tal porém eu rapidamente migrei para a guitarra elétrica, comecei a tocar rock/metal, depois fiz aulas de canto e de piano. Sempre adorei música, principalmente a parte da performance ao vivo. É uma energia mais viciante do que qualquer droga!
FMG: Quais foram as bandas que você tocou no Brasil e você participava do processo de composição das músicas?
AR: Meu professor de canto tentou me colocar em umas bandas underground de Campinas mas eu não me dei bem com nenhuma delas então falei com meus melhores amigos do colégio e formamos a nossa própria banda chamada Reckless. Todo mundo ajudava na composição das músicas e na produção/gravação era o batera D.C. quem comandava. Foi uma época muito legal.
FMG: Como foi a sua entrada no mundo da música eletrônica? Foi ainda no Brasil?
AR: O pessoal da banda sempre foi muito festeiro, costumávamos ir em vários festivais de musica eletrônica (chamava Rave na época, nossa como eu to velho) e tentamos incorporar esses elementos nas nossas produções. Sempre tive um pé no rock e o outro na música eletrônica, para falar a verdade. Gosto muito de ambas as cenas.
FMG: O seu nome artístico Ash R. tem algum significado? Como foi a escolha?
AR: Eu era novo e estava assistindo o filme “O Corvo” (o segundo filme, bem trash) e o corvo chama Ashe. Eu era branco que parecia um fantasma naquela época e eles acharam q eu era parecido com o personagem e o nome veio disso.
FMG: E como foi a decisão de sair do Brasil? Já existia algo estabelecido na Europa ou foi na cara e coragem?
AR: Fui na cara e na coragem. Uma das minhas tias morava em Florença e eu fiquei uns 2 ou 3 meses na casa dela, o que facilitou bem. Fora isso eu não tinha nada arranjado, sabia falar um pouco de italiano e só, tive que começar do zero mesmo.
FMG: A sua primeira cidade na Europa foi Florença, alguma relação ao mundo da moda?
AR: Na verdade não, foi Florença simplesmente porque eu tinha família por lá e isso dava uma certa sensação de segurança, foi por acaso mesmo.
FMG: Atualmente você tem feito trilhas para desfiles de moda e até chegou a desfilar como modelo convidado. Como foi a entrada neste mundo e qual a diferença de uma trilha para um desfile específico?
AR: Pois é... esse tipo de coisa meio que me persegue. Foi tudo bem natural através de contatos mesmo, tem muita gente inventando muita coisa nas principais cidades europeias e as oportunidades aparecem para quem fica atento. A música depende muito da coleção e do conceito do estilista. Em uma ocasião a estilista queria vários temas de várias princesas da Disney e nesse caso eu só mixei mais músicas. Em outra ocasião, por exemplo, o estilista me deu liberdade para compor o que eu quisesse e nesse caso eu realmente produzi do zero todo um tema de 25 minutos para o show dele no Fashion Week.
FMG: Como foi se estabelecer como um músico brasileiro no universo da música eletrônica europeia? Houve alguma discriminação no princípio?
AR: Cara, pra ser bem sincero, eu nunca sofri discriminação, viver de música é difícil em qualquer lugar, acho que o principal é se dedicar muito, nunca desistir e aprender a levar muito “não” na vida.
FMG: Nos conte a forma que você compõe as trilhas. As mixagens se formam antes na sua cabeça ou é na pick up, experimentando?
AR: A grande maioria das vezes eu só apareço, olho para as pessoas, para o ambiente e improviso tudo. Salvo algumas ocasiões em apresentações maiores ou com temas particulares, nesses casos eu normalmente faço a “lição de casa” e procuro organizar listas de músicas especiais para esses eventos. Com a experiência você acaba descobrindo qual música combina com qual e que efeito elas causam nas pessoas, depois é só aplicar esse conhecimento.
FMG: Você faz parte de uma banda de rock italiana chamada Dope Star Inc. Como surgiu o convite e como é ser um músico de eletrônico em uma banda de rock? Não gera conflitos de imagem e de agendas?
AR: O Dope Stars parou de tocar faz uns 2 anos, nossa última apresentação foi num festival super legal na Alemanha chamado M’Era Luna junto com o Nightwish, Rob Zombie e outros. Eu fui no estúdio onde o Victor (cantor do DSI) trabalhava para gravar umas partes de umas produções minhas com ele. Nos conhecemos ali durante aquela sessão de gravação e nos demos super bem imediatamente. No final do segundo dia de gravação ele me convidou pra entrar na banda. Não gerava conflito pois a banda tocava esporadicamente, dava pra conciliar bem a agenda.
FMG: Qual o processo de escolha de uma música para que você faça sua versão mixada?
AR: Muitas vezes é algo que eu quero tocar nos meus sets porém eu não acho nenhum remix que me agrade então eu vou e faço eu mesmo. Outras vezes é simplesmente uma música que eu gosto e me dá prazer tentar retrabalhar o tema.
FMG: Como é o relacionamento entre os artistas e o público de música eletrônica?
AR: Acho que hoje em dia, assim como qualquer outra coisa, é tudo baseado em rede social. O pessoal da cena eletrônica geralmente é muito aberto e pacífico, eu gosto bastante da vibe, a galera se perde na música!
FMG: A música eletrônica é muito relacionada com as drogas sintéticas, como você enxerga este problema? Prejudica de que forma a imagem dos eventos e do próprio estilo? Já sentiu alguma discriminação por isso?
AR: Infelizmente isso é verdade porém eu não acho que seja um grande problema. Isso é mais proeminente na cena techno underground, porém nos outros tipos de festas eletrônicas o uso existe, mas não é nada grave. Sinceramente não é algo que eu apoio porém eu respeito o direito de cada um de ficar muito louco caso queiram. Basta saberem se comportar pra não estragarem a festa dos outros.
FMG: O que diferencia os DJs de música eletrônica um do outro basicamente?
AR: Os DJs produtores são aqueles que fazem as próprias músicas e remixes, esses são fáceis de diferenciar por motivos óbvios. Já os DJs que simplesmente tocam músicas de outros artistas podem se diferenciar de várias formas, alguns tentam criar um estilo próprio baseado na seleção musical, outros desenvolvem técnicas avançadas de mixagem como scratch, live mashup que acabam marcando o estilo individual de certa maneira.
FMG: Existem vários estilos dentro da música eletrônica. Você poderia nos explicar basicamente qual a diferença entre eles?
AR: Cara... isso seria como tentar explicar qual a diferença entre os diversos tipos de Rock. Tem muita coisa mesmo, vai desde o pop eletrônico tipo Madonna até umas loucuras experimentais japonesas de Noize Music que é praticamente só ruído, chiado e distorção.
FMG: Tivemos há pouco tempo o suicídio do DJ Avicii, vítima de depressão, e que havia se aposentado dos palcos por excesso de trabalho. Como você enxerga esta questão?
AR: Foi uma perda grande pra cena como um todo. Tim foi um cara visionário e uma das figuras mais importantes na cena eletrônica dos últimos anos. Pelo que eu sei ele gostava muito de produzir e trabalhar no estúdio mas detestava se apresentar ao vivo e a vida na estrada acabou trazendo diversos problemas. Para ser bem sincero essa correria é normal, eu pessoalmente já cheguei a tocar mais de 250 vezes em um ano e muitos dos DJs famosos trabalham até mais, acho que o Skrillex chegou a tocar 300 apresentações no ano que lançou seu primeiro disco. Steve Aoki também é um dos que tocam de tarde em um país e de noite em outro, no mesmo dia.
FMG: Você está lançando um novo single "Still Into You". Conte-nos a história desta faixa.
AR: A música sai dia 29 de Junho em todos os canais online, Spotify, iTunes, Amazon, Deezer, etc. É a minha melhor composição até agora, escrevi as letras uns 2 anos atrás baseadas num relacionamento que eu tive e a música ficou armazenada junto com várias outras ideias que eu tenho, até que um dia produzi um som que combinava e resolvi finalizar a música.
FMG: Como será o processo de lançamento da faixa?
AR: Vai ser online, como quase tudo hoje em dia. Já existe a possibilidade de pré-salvar a música no Spotify, assim ela aparece na sua lista automaticamente no momento que lançar. E para comemorar, estou sorteando um set de headphones BEATS, pra algum sortudo poder ouvir a música com estilo!
FMG: Quais os grandes festivais que você já tocou?
AR: Depende do que você considera grande. Com o Dope Stars toquei em algumas arenas em algumas ocasiões, geralmente fazendo abertura para alguma banda maior tipo Nightwish. Tocamos também em uns festivais muito legais na Alemanha como o M’Era Luna que junta umas 30 ou 40 mil pessoas. Como DJ eu toquei nos últimos 3 anos na Stockholm Pride Parade que é a maior parada de rua da Escandinávia e junta dezenas de milhares de pessoas. Alias, literalmente 2 horas atras, acabei de receber o convite pra tocar novamente esse ano, estou super contente... vai ser muito legal!
FMG: Você já tocou no Brasil como DJ alguma vez? Se não, sonha em tocar?
AR: Acredita que eu nunca toquei como DJ no Brasil?! Eu até fui atrás e procurei um pouco, mas a maioria dos locais toca sertanejo, que sinceramente não me agrada nem um pouco. Na real eu não fico muito no Brasil, quando vou é só de passagem para visitar a família mesmo. Claro que eu morro de vontade de tocar aí né, sou brasileiro 100%! Infelizmente ainda não aconteceu, mas quem sabe um dia!
FMG: Qual mensagem você deixa nossos leitores do Fanatic Media Group?
AR: Queria primeiro de tudo agradecer a todos os leitores e também a você, André, pela oportunidade! Acho bacana dividir um pouco da minha experiência. Muita gente no mundo das artes no Brasil tem uma ideia errada de como é a realidade na Europa, aqui tem que ralar muito também! Parabéns pelo ótimo trabalho que você tem feito!
Por: André Luiz Bona