Fátima Taffo, irmã do guitarrista Wander Taffo, conversou conosco sobre os novos projetos que celebram a obra do músico.


Fanatic Media Group: O Projeto "Viva Wander Taffo" visa reunir todo o material do músico, além do relançamento de sua biografia. Como surgiu esta ideia?

Fátima Taffo: Desde que o Wander faleceu, em 2008, fiz alguns tributos para ele. Normalmente sempre essa primeira linha de guitarristas que tocam comigo. Alguns dos tributos que fizemos foram no SESC, no Bourbon Street e no antigo Woodstock, que anteriormente ficava no Morumbi.
O Wander tinha todo o material do Rádio Taxi editado, incluindo o último DVD produzido em 2005. Porém ele não tinha muita coisa da banda Taffo e da carreira solo, justamente da época que trabalhei com ele. Então eu resolvi reunir toda essa discografia feita no período da banda Taffo, cujas as letras na maior parte são minhas, que também é um trabalho meu.
Quis trazer isso de volta porque é algo que todo mundo sempre pede e eu sempre quis ter. E nesta época, que completa 10 anos que ele nos deixou, é um marco trazer a figura dele de volta.
A ideia surgiu no segundo semestre do ano passado. Nesse período que eu ativei e fiz o crowdfunding, tudo para arrecadar dinheiro. Mesmo contando com o nome dele que é super forte, não é fácil arrecadar dinheiro para este tipo de projeto.


FMG: No dia 10/05/2018 haverá um show tributo com uma série de convidados. Todos os músicos envolvidos tem uma grande importância na história de Wander Taffo. O que podemos esperar deste show?

FT: Todos os músicos envolvidos tem realmente uma grande importância na história do Taffo, com exceção da Lívia Dabarian que é a esposa do Alírio Netto.
O Alírio Netto é um vocalista incrível, que encontrei a partir do terceiro ou quarto tributo. Ele começou a fazer os vocais do tributo e sempre foi incrível. A esposa dele também canta muito. Como o Alírio assumiu este trabalho com o Stravaganza do Queen, ele sugeriu a Lívia para substituí-lo. Para mim foi um alívio, pois nunca contei com uma mulher cantando e ela tem uma voz possante e maravilhosa cantando rock.
Acho que será um ingrediente fantástico no show. Além dela, teremos o Maurício Gasperini que está sempre presente. Ele irá trazer estes sucessos mais radiofônicos, sucessos da grande mídia que o Wander participou.
Os meninos que tocaram com eles na primeira formação também participarão, os Busic. Edu Ardanuy, que é um grande guitarrista, também estará lá. Ninguém melhor do que ele para representar o Wander.
Teremos a participação de Demian Tiguez, do Fabio Zaganini, que inclusive é coordenador de baixo da EM&T, e do Marco Bavini, que era vocalista do Anjos da Noite e do Tork.
Ainda temos a banda Trezzy fazendo a abertura. Um show imperdível para quem gosta de rock, de um bom rock de qualidade.



FMG: Quais foram os critérios utilizados na escolha dos músicos que participarão do tributo?

FT: A escolha foi exatamente isso, quem tinha realmente uma ligação forte com o Wander. Conseguimos juntar de uma maneira bem harmoniosa os meninos do Dr. Sin, que desfizeram a banda há dois anos e ninguém acredita como consegui uni-los novamente.
Realmente eles estão juntos porque eles têm um talento imensurável e são muito bons no que fazem, eles tem uma harmonia de pensamento e de execução muito boa. O trabalho ficou fantástico! Além do Marcelo Souss, que não citei na resposta anterior, que é o tecladista da banda Taffo desde sempre, querido e sempre presente em todos os tributos e o Bavini, que também sempre acompanhou toda a trajetória da banda Taffo, sempre esteve perto e também participou de todos os tributos.
O Demian Tiguez e o Fabio Zaganini fizeram também alguns tributos e eles vêm junto para dividir um pouco as músicas, com excelente nível e qualidade.


FMG: Antes do falecimento de Wander Taffo, ele estava envolvido em algum projeto?

FT: Pouco antes de Wander falecer, ele queria retomar a banda Taffo. Ele morreu em uma quarta-feira, e na quinta-feira eu tinha ensaio. Seria o primeiro ou segundo ensaio, que contava inclusive com o Fabio Zaganini, Marcelo Souss e Cristiano Rocha. Ele estava procurando um vocalista, então iam começar a ensaiar a parte instrumental da banda Taffo.
Ele já tinha me dado algumas músicas, falado da gente voltar a fazer música junto. Tanto é que eu acabei fazendo: a última composição dele chama "Fecha os olhos". Eu já tinha feito uma letra, ele precisava inserir na música uma melodia e acabou falecendo antes de finalizar, e quem acabou fazendo isso foi o Mauricio Gasperini. Essa música "Fecha os olhos" é linda, está no trabalho solo do Marco Bavini e estará também no pen drive que a gente está fazendo para os fãs que apoiaram a campanha.


FMG: Em caso positivo, a renda do show será revertida para algum destes projetos?

FT: Este show, na verdade, não sei se vai ter uma grande renda. Um show em um teatro destes demanda um custo muito alto, estamos inclusive buscando patrocínio para ajudar nos custos.
A intenção mesmo é fazer um trabalho legal, nós vamos fazer uma filmagem deste show e queremos colocar esta banda na estrada, este que é o grande projeto.
Estamos fechando alguns shows pela frente e o projeto é, sempre foi esse: Resgatar o bom nível de música e de rock aqui no Brasil . Nós estamos também nos aliando a pessoas desta mesma visão de mercado, que querem trazer de novo o rock.
Para fazer isso precisamos de parceiras e de união. Estamos contando com gente que busca trabalho autoral, além de bandas que realmente podem acrescentar no cenário. Tanto é que estamos abrindo espaço para a banda Trezzy, que está junto com a gente neste evento. É uma oportunidade para começar este trabalho de trazer bandas de rock que realmente estão a fim de trazer trabalhos autorais, criativos e que acrescentem ao mercado musical aqui do Brasil, que está muito fraco.


FMG: Mesmo após o falecimento, Wander Taffo continua sendo um ícone da música e lembrado por todos. Existe algum segredo para esta longevidade?

FT: O Wander continua sendo um ícone da música e lembrado por alguns, pois muita gente não sabe quem é o Wander Taffo.
Em um país como o nosso, que realmente não dá a mínima para talentos como ele, esse é o trabalho árduo que eu tenho feito há muito tempo.
Quando que ele faleceu, eu vi no cemitério do Araçá mais de 1000 pessoas no velório. Aquilo me comoveu de uma tal maneira, porque eu não imaginava o quanto ele era querido... Ele recebeu coroas de flores de todos os segmentos do rock, como Rita Lee, Barão Vermelho, Titãs, Skank...
Todo o segmento do rock da época estava unido e todo mundo muito emocionado. Recebi vários depoimentos após a morte dele. Inclusive a intenção de escrever o livro biográfico foi para tentar resgatar mesmo essa figura dele como ícone, como realmente um divisor de águas no cenário do rock, um cara que incrementou demais o estudo da guitarra, que fez uma confraria entre guitarristas, que trouxe um monte de coisas boas para a música e que muita gente não reconhece, não valoriza. Ele às vezes não é citado em livros de rock, isto é algo que me impressiona.
Meu trabalho é esse, é resgatar a figura, o trabalho dele e o legado que ele deixou. Esta longevidade tem muito a ver com esse trabalho persistente que a gente tem de manter a figura dele viva, e não só por isso, pela própria marca que ele deixou. Acho que muitas pessoas foram contagiadas e tornaram-se músicos por causa dele. Tudo isso conta bastante, e viva Wander Taffo!


FMG: A EM&T é reconhecida hoje como a maior e melhor escola de música da América Latina. Inicialmente o projeto era desacreditado até pelo fiador. Como este sonho surgiu e tornou-se realidade? Encontraram muitas dificuldades?

FT: A EMT é uma super escola, eu sempre falo que quem está lá dentro está vivendo dentro do sonho do Wander Taffo.
Ele que sonhou, acreditou e buscou parceria para fazer isso juntamente com o Célio Ramos. E ele realmente imprimiu ali toda sua alma, toda sua vontade de que as pessoas pudessem aprender a guitarra e os instrumentos que são ensinados ali de uma maneira mais fácil e mais didática.
Ele mesmo teve que aprender na raça, o Wander não tinha nem vídeos dos caras tocando, nem nada, ele simplesmente tinha que deduzir como que os caras tiravam este ou outro som. Essa facilidade que hoje as pessoas tem para aprender era o sonho dele. Ele sempre foi muito generoso nesse sentido de ensinar, de trazer os melhores equipamentos para as pessoas, de mostrar como que a coisa podia ser feita.
Quando ele se associou ao Célio Ramos, que era um cara de visão e de propaganda, eles fizeram uma super escola com poucos recursos, porque como o nome do Wander alavancava muito, todo mundo confiava. Ele tinha muita credibilidade, então eles buscavam os fabricantes de instrumentos musicais como parceiros e falavam: "Precisamos fazer x salas de ensino de guitarras, com x guitarras, etc", e as marcas iam abastecendo a escola, colocando o nome na porta da sala de aula.
Eles foram fazendo essas parcerias e montando a escola que mudou o paradigma de escolas de música. As escolas de música eram conservatórios, eles trouxeram uma inovação. Todo mundo teve que mudar e seguir na mesma linha, para a escola não ficar esquecida no tempo. Foi realmente um divisor de águas, um cara avançado, um cara de vanguarda , um cara que, realmente como eu falo, não tem o reconhecimento devido. Estamos lutando para ele ter realmente esta marca dentro do cenário musical do Brasil.


FMG: No início dos anos 70, quando Wander Taffo iniciou a carreira, havia uma grande dificuldade para os músicos, tanto em termos de equipamento quanto de oportunidades de uma forma geral. Como a família reagiu quando ele seguiu a carreira artística? Houve apoio familiar?

FT: O Wander teve uma grande oposição do nosso padrasto que era contra ele ser músico, só que estava muito no sangue. Nossa mãe era cantora, foi cantora da Tupi durante anos, uma das maiores cantoras de jingles do Brasil. [Ela] fez quase todos os jingles da época e nosso pai também era músico, clarinetista e flautista da banda Regionais do Rego. A gente tinha isso muito impregnado no DNA, não tinha como fugir.
O Wander sofreu muita oposição do nosso padrasto, a ponto dele impedir que ele tocasse, e nós sempre apoiando. Minha mãe dando guitarra, incentivando, fazendo sempre essas coisas para ele não desistir. E realmente, essa preocupação do nosso padrasto é que ele não ficasse um cara sem muita função na vida, porque músico sempre foi muito marginalizado, imagina no início dos anos 70?
Mas ele foi sempre muito obstinado, sempre persistente. O Wander era um cara antenadíssimo, ele conhecia os melhores equipamentos, as melhores formas de você tirar o melhor som , os timbres... Você pode ver que o trabalho dele tem uma grande qualidade, um cara extremamente de bom gosto. Tudo isso era coisa dele e ele era muito antenado, sempre indo atrás das coisas mais modernas, do que realmente acrescentava o som da guitarra, além do feeling.
Ele falava que não adiantava você tocar pra caramba, ter toda a técnica do mundo se você não tivesse um feeling, alguma coisa que viesse de dentro para poder executar da melhor forma possível.


FMG: Há algum significado especial para o pen drive lançado no projeto ser em formato de rosa branca? Além de ser o nome de um dos álbuns, podemos ver esta imagem na coletânea.

FT: A rosa branca é um símbolo que a gente adotou a partir deste álbum chamado Rosa Branca. Se você notar, este álbum é muito diferente do Wander Taffo solo feito pela Warner.
Ele já vem com uma proposta de mensagens positivas... A gente teve uma repercussão muito grande, principalmente pelos jovens da época, que se sentiam bem com as letras. A música era uma coisa que realmente motivava a continuar em frente. Não seria um disco de autoajuda, mas um disco que realmente tocou o coração das pessoas e fez muito bem.
É uma forma de comprometimento que o músico tem que ter com a música que ele faz, você tem que atingir as pessoas diretamente no centro, não adianta você fazer elucubrações, ter uma coisa assim muito mental, estudada, muito lógica, muito incrivelmente apoiada pela crítica. Você tem que realmente fazer uma música que atinja o coração das pessoas.
As pessoas têm que se sentir bem, têm que aumentar a frequência de vibrações em que vivem e essa que eu acho que é a grande responsabilidade do músico. Então esses músicos quando fazem a música pelo mero mercado, para ter grana e não tem nenhum comprometimento com essa responsabilidade, eles realmente estão jogando a vida fora.
O músico tem que ter esse comprometimento , tem que ter essa vontade de acrescentar e de trazer coisas melhores para este mundo que a gente vive. Principalmente hoje em dia, basta ver o caos musical que a gente tem vivido aqui no Brasil. As pessoas não estão comprometidas com esse propósito de realmente sermos um canal de amor e de luz. E a rosa branca é bem esse símbolo de amor, de luz, de alegria que a gente quis e quer trazer para as pessoas. Trazer essa energia mesmo positiva para quem ouvir e puder ser tocado. Com certeza será.


FMG: Como irmã de Wander Taffo, poderia contar um pouco, na sua opinião, sobre qual o momento mais marcante na carreira dele?

FT: Um deles deve ter sido o sucesso de "Eva", que eles não esperavam. Foi uma música que rendeu pelo menos 300 shows em um ano, então todo mundo ali teve um avanço financeiro na vida.
Lembro que na época o Wander comprou um apartamento na cobertura , então deve ter sido um momento bem marcante esse sucesso com a música Eva, que todo mundo acha que é da Ivete Sangalo, mas vamos deixar quieto.
Um outro momento marcante que eu estava junto: O Wander era contratado da gravadora Warner e a Warner queria deixar a gente de molho mais um tempo para gravar outro disco, porém tínhamos todo o projeto do álbum “Rosa Branca” pronto. Quando enviamos para o pessoal da CBS, eles compraram a ideia no mesmo dia em que eles receberam a proposta. Ligaram para o Wander quando estávamos lá, o escritório era no apartamento dele na cobertura.
Quando falo cobertura não é para frisar, é que acabei de falar que ele tinha comprado este apartamento (risos). Ele já morava lá há um tempo, e o escritório também ficava lá.
Na hora que um dos diretores da CBS ligou dizendo que tinham adorado o projeto e estavam mandando 5 passagens para irmos ao Rio no dia seguinte, para assinar contrato, foi um momento muito marcante. A gente se jogou no braço um do outro, todo mundo se jogou no chão, um pulou em cima do outro, tipo aquelas comemorações de gol. Este daí foi um momento muito marcante, gravado na minha alma mesmo. Foi uma sensação, um sentimento delicioso e tenho certeza que para ele também foi.
E o outro com certeza foi ter conseguido concretizar um grande sonho de montar a escola. Esses três podem contar como os [momentos] mais marcantes: O estouro do Rádio táxi, a nossa Rosa Branca e a escola.


FMG: Através do Catarse muitos fãs colaboraram com o projeto, porém já foi encerrado. Ainda há a possibilidade de adquirir os itens?

FT: Claro, todos os produtos prometidos que estão na campanha do Catarse estarão a venda. Iremos vender online, neste show os itens estarão à venda e com certeza um monte de gente ainda poderá ter acesso a este material.


FMG: Quais são os próximos passos do projeto?

FT: Queremos fazer mais shows com a banda e continuar estimulando essas músicas. Quem sabe criando novas músicas, mas trazendo sempre a figura do Wander.
Acho que a banda vai sair com o nome Taffo de novo, porque o nome é meu também. Temos essa intenção de continuar com a banda, levando esse trabalho lindo e essas músicas incríveis executadas desta maneira bárbara com esse pessoal que está comigo.


FMG: Poderia deixar uma mensagem para os leitores?

FT: A mensagem que posso deixar é que não desistam nunca, porque a música não desiste de nenhum de vocês. Todo mundo que pode ser um canal, que pode estar acrescentando, que pode trazer coisas positivas para o mundo tem que continuar insistindo, persistindo obstinadamente como o Wander sempre fez. Principalmente quem lida com a música.
Eu acho que a música, como o Wander dizia, é a arte que mais nos aproxima do Criador. Porque como ela se espalha em ondas, a música é capaz de atingir muita gente.
Cada músico, cada pessoa envolvida com música tem que ter um comprometimento com a verdade, com a necessidade de trazer coisas positivas para o mundo. Então aqui através da música todos possam ser tocados da melhor maneira possível. E viva Wander Taffo!!!


Por: Priscila Velasco e André Bona