Uma conversa franca com a banda Drenna.







Fanatic Media Group: Quando e como a banda foi formada e quais mudanças de formação a banda já teve?

Drenna: A banda foi formada em 2009 no bairro de Olaria – RJ.
A vocalista Drenna, já tivera algumas bandas antes e tinha algumas músicas engavetadas quando surgiu a oportunidade de tocar em festival. Mesmo sem banda, ela decidiu
que iria tocar e chamou o baterista Milton Rock pra tocar com ela. Até então seria um Duo.
Mas um dia antes do festival, dois amigos disseram que queriam participar do projeto e foi
tão legal a apresentação que essa formação permaneceu durante um bom tempo.
De lá pra cá houveram algumas mudanças. Em 2014, entraram Junior Macedo na guitarra e Bruno Moraes no Contra-baixo. Desde então a formação é essa: Drenna Rodrigues (vocal e guitarra),Milton Rock (bateria), Junior Macedo (guitarra) e Bruno Moraes (baixo).
FMG: Como foi o início da banda? Tiveram muitas dificuldades de criar um público e fazer shows?

Drenna: Nenhum início é fácil. A ralação é intensa e continuará sendo. É importante focar,
buscar conhecimento de mercado e estar sempre em contato com os fãs.
Quanto aos shows sempre abraçamos a filosofia do “do it yourself”. Se não está
rolando nada, vamos lá e criamos a oportunidade. Por esse motivos acabamos
conhecendo muitas bandas que tinham a mesma filosofia e criavam suas próprias
oportunidade e acabamos virando brothers dos mesmos. Hoje em dia, estamos
numa correria intensa de festival em festival. Um crescimento que aconteceu de
forma natural.

FMG: Como é o processo de composição das músicas da banda? Quem compõe as letras e quem faz a parte musical em si? Normalmente as letras saem primeiro?

Drenna: O método de composição foi mudando com o passar do tempo mas na verdade
nunca houve um jeito pré-estabelecido. No começo da banda, a Drenna Rodrigues
era quem fazia as letras e a harmonia, e o restante do arranjo ficava por conta da banda.
Pro nosso álbum mais recente, mudamos um pouco essa forma. Queríamos que
todos participassem de todo o processo. Desde a escrita, hamornia e o arranjo.
Nesse álbum, a maioria das letras foram feitas em conjunto mas também há letras só da Drenna.
Também rolaram parcerias vinda de fora da banda, como nas músicas: “Navego” (parceria entre Drenna Rodrigues e Edu Avelino) e Alívio (parceria entre Drenna Rodrigues e Rafael Lima).


FMG: A banda é conhecida por ser uma banda de estrada. Como é feito este trabalho de venda de shows e contatos? Como tem sido a recepção do novo rock feito no RJ por todo Brasil?

Drenna: Temos alguns parceiros que agenciam nossos shows e que nos ajudam de
forma geral. Mas somos uma banda muito ativa, e estamos presente em tudo que podemos.
A receptividade quanto ao rock carioca tem sido excelente. Não podemos dar parâmetros,
mas tá rolando muito bem.

FMG: Quais os festivais a banda já tocou e como é a recepção das bandas locais?

Drenna: Já tocamos no Fejacam (Paraná), Festival da canção de Paracatu (MG), Circuito
Banco do Brasil (apoteose – RJ), Planeta Rock ( Rio Preto - São Paulo), Fun Music
(RJ e SP), Rio Artmix (Vivo Rio), Festival do Sol (Natal), Festival Ponto CE (Fortaleza
– Ceará)...
As bandas locais nos recebem muito bem. Somos uma banda que gostamos de
conversar, trocar experiências e sentimos que esse sentimento na maioria das vezes é
recíproco.

FMG: O fato de ter uma mulher no front da banda já causou alguma saia justa ou problema? O número de mulheres na frente de uma banda de rock tem aumentado, mas ainda é um número pequeno, a que atribuem isto?

Drenna:Nunca causou nenhum problema ou saia justa, afinal, por que causaria?
Não sei realmente o motivo de existirem um número pequenos de mulheres
como front woman no mainstream, no entanto, aqui no Rio de Janeiro conhecemos
bastante.

FMG: Como a banda vê o momento atual do rock underground no Brasil e em especial no RJ?

Drenna: Estamos vivendo um momento de muita criação. Existem muitos artistas e
bandas fazendo trabalhos excepcionais. Existe uma cena rock aqui, mas cada
banda tem sua característica musical, sua identidade, e isso é muito bom.



FMG: A banda faz parte no RJ do movimento A Cena Vive, como foi que surgiu?

Drenna: Foi de forma muito natural, como disse anteriormente, somos uma banda que se
nada acontece, vamos fazer acontecer, e acabamos conhecendo outras bandas que
seguiam essa mesma ideia. Com o passar do tempo cada banda criou seu próprio evento
e uma frequentava o evento da outra, tocando ou não, estávamos lá. Pensamos em
ampliar a ideia, tentar criar um movimento onde as bandas do RJ se ajudassem ao invés
de tentar competir uma com a outra.


FMG: Quais as metas e maiores conquistas que este movimento já teve?

Drenna: Aí que tá, o movimento era apenas uma ideia filosófica. Nunca chegou a ser um
coletivo nem nada assim. Muita gente achou que era mas nunca foi. O objetivo era
simples, com hashtag "#Acenavive", toda banda autoral seria facilmente localizada pela internet e isso ajudaria a unir as bandas, criar um elo, fazer as bandas se conhecerem e com isso
fomentar mais e mais oportunidades.
Conseguimos visibilidade pras bandas do RJ e muitas bandas do Brasil inteiro passaram
a usar a hashtag.

FMG: A banda vive muito tempo na estrada e com certeza tem ótimas histórias para contar. Qual o maior perrengue que a banda já passou?

Drenna: Já rolou muita coisa. Podemos citar o baixista, Bruno Morais, esquecido num posto de gasolina como uma das mais clássicas.

FMG: Qual show foi inesquecível para a banda e por quê? E tb qual foi o que a banda quer esquecer e por quê?

Drenna: Um show inesquecível? Acho que o foi o show que fizemos no Circuito Banco
do Brasil no final de 2014. Foi o primeiro grande show com essa formação e desde
o momento que soubemos da nossa participação até a hora do show foi tudo tão
intenso que não sabemos nem descrever. Até hoje, com certeza esse foi o show que
mais nos impactou.
Um show que queremos esquecer?
Já teve um que fomos pra cobrir uma banda lá no interior de São Paulo e o show não foi divulgado nem nada, então não deu ninguém. Passou em branco. Mas serve pra nos lembrarmos de não fazermos isso novamente. Sempre tem uma lição pra aprender no final das contas

FMG: Qual a inspiração para as letras das músicas?

Drenna: Normalmente são situações que vivemos no cotidiano, sensações que sentimos
ou as vezes uma história que nos contaram. Mas a inspiração pode vir de qualquer
lugar.

FMG: O que mudou no som da banda pelos tempo de estrada?

Drenna: Acho que o amadurecimento musical é algo constante. É difícil demonstrar em
palavras o que mudou. Sabemos que nos discos anteriores havia tanta verdade quanto
nesse mais recente mas estamos sempre tentando buscar crescimento,
amadurecendo a forma de compor, caçando novos timbres, encontrando novas
formas de nos comunicar através da música. Isso vai construindo novas verdades no que fazemos.

FMG: Como foi o convite para tocar no Circuito Banco do Brasil? E qual o tamanho da importância deste evento para a banda?

Drenna: Como havia dito, esse evento marcou muito pra banda, desde o momento que
soubemos que iríiamos fazer. Não dá pra calcular a importância de um festival tão
forte como esse. Muita gente passou a nos conhecer por causa desse festival,
acho que isso já mensura um pouco o quanto ele foi importante pra nós.

FMG: Qual a principal dificuldade que uma banda underground tem hoje em dia no RJ? A falta de uma rádio que toque as bandas, a falta de casas de shows apropriadas, a violência da cidade...?

Drenna: Todos os tópicos citados são reais complicadores para as bandas. Seria
realmente incrível ter uma rádio rock na cidade, mas será que ela fomentaria a nova safra
de rock assim como a tão comentada e falecida rádio Fluminense? Vai saber... Mas mesmo que não o fizesse seria bom. Quanto as casas de shows sem estrutura, isso é
péssimo mesmo. Ninguém que ir em um lugar onde não dá pra ouvir uma palavra do
cantor diz.
Quanto a violência, eu diria que é a maior de todas as complicações, sem sombra de
dúvida. Dá pra notar os eventos cada vez mais vazios e é compreensivo que as pessoas
evitem sair de suas casas, afinal, o Rio de Janeiro nunca esteve tão abandonado quanto
nestes últimos anos.

FMG: Qual foi a importância do Imperator neste momento da cena? E como foi esta adesão?

Drenna: De importância incrível. Ter uma casa de grande porte e com tanta
importância histórica abraçar a causa e trazer oportunidades para as bandas novas, seria impossível pensar numa possibilidade dessa há 5 anos atrás. As
bandas são muito boas, a cena daqui ta fervendo e é claro que isso não passaria em
branco. A produção da casa teve visão e resolveu apostar e trazer um público novo e
jovem pra casa.

FMG: A banda acabou de lançar o CD “Desconectar”. Fale-nos sobre ele. Foi gravado na Toca do Bandido e teve a direção artística da Constança Scofield. Como foi tudo isto?

Drenna: Já tínhamos uma conversa com o Felipe Rodarte, até por conta da cena.
Começamos a mostrar as músicas pra ele e depois fomos trabalhar no estúdio.
Foi algo bem suave! Ele é um produtor tranquilo, ouve as ideias da banda e acrescenta as dele,
não é nada imposto, e pra nós como banda isso é bom. Porque queremos imprimir nossa
identidade. O que aconteceu no disco, foi um processo de amadurecimento e crescimento.
Gravar um disco é algo muito intenso. É gostoso mas também é muito cansativo.
Trabalhamos 3 meses, ensaiando e amadurecendo as músicas e depois entramos em
estúdio. O resultado saiu melhor que o esperado. Não vemos a hora de começar essa
correria novamente.
A Constança acompanhou tudo de perto, sempre esteve presente e sempre apresentou
suas ideias diretamente ao Felipe. Pra capa do álbum ela apresentou ideias, e discutimos
juntos o conceito que empregamos.



FMG: Além do nome do CD, “Desconectar” é o nome da primeira faixa. É uma necessidade que a banda tem sentido? Fale-nos dessa faixa em especial.

Drenna: Acho que é um tema que todos nós deveríamos pensar. Hoje em dia estar
conectado é algo necessário em certos casos mas é importante ter
momentos para desligar o computador, o celular e estar presente, conversar
pessoalmente e abraçar a ideia do “desconectar para conectar”. Desconectar-se
virtualmente para se conectar pessoalmente. Essa é a mensagem e é isso que queremos
falar para as pessoas.

FMG: A banda tem investido bastante em videoclipes. Como é feita a escolha das faixas e quem é responsável pela roteirização?

Drenna: Acho que se pudéssemos investiríamos muito mais. Mas vídeo é algo que
realmente dá um trabalhão. Dependendo de cada vídeo, os roteiristas vão
mudando. No caso do roteiro do vídeo de desconectar foi o Leonam Moraes, um
amigo nosso. O Vídeo de Lumiar, a Drenna Rodrigues escreveu juntamente com a
equipe da Ghost Mídia. Tem outros dois que em breve estarão no ar mas ainda é
segredo. Normalmente nosso selo Toca Discos nos ajuda a escolher as faixas.

FMG: Quais os meios de contato da banda para quem quiser ouvir, assistir os videoclipes da banda ou até mesmo entrar em contato?

Drenna: Estamos em todas as mídias sociais e em todas as plataformas de música digital, é só
procurar Drenna que você vai achar!





Entrevista com Carlos Maltz (parte 2)


Carlos Maltz - Divulgação

Fanatic Media Group: Em que momento você decidiu deixar a banda e por quais motivos exatamente?

Carlos Maltz: Eu fiquei na banda até a gravação do Simples de Coração. A gente foi pra Los Angeles mas ali a gente já não era mais uma banda, eu já falei isso outras vezes, a gente era um bando. Era um bando de gente cada um atirando para o seu lado. Depois dali já não tinha mais condição de a gente continuar sendo uma banda, já não era mais... Na minha maneira de ver, Simples de Coração já não era mais uma banda que gravou, é um excelente disco, tem um som incrível, músicas fantásticas, mas quem gravou foi um bando, não foi uma banda.

FMG: Você ainda lembra como foi o momento que apresentou O Castelo Dos Destinos Cruzados para o Humberto? Qual foi a reação dele na época?

CM: Quando apareceu O Castelo Dos Destinos Cruzados já não tinha mais clima nenhum entre nós, porque qualquer música, se eu tivesse apresentado Yesterday para o Humberto ele teria achado uma merda também... Então isso aí é muito mais o momento do que a música em si.

FMG: A banda teve um ritmo de trabalho intenso que levou ao desgaste da relação entre vocês. Umas férias com intervalo maior entre os discos nunca foi cogitado?

CM: Não tinha muito esse negócio de férias, estava sempre tocando, sempre acontecendo alguma coisa. Aliás na minha vida há muito essa palavra “férias” é uma palavra esperando tradução.

FMG: Como foi voltar a trabalhar com o Humberto depois de tantos anos? Nos shows você ainda se sente parte da banda ou apenas um convidado especial?

CM: Eu o Humberto, a gente começou a fazer umas coisas juntos e tal... Fizemos até músicas juntos, que é uma coisa que a gente não tinha feito na época da banda. Fizemos E-Stória juntos, fizemos Segunda-Feira Blues e gravamos algumas coisas: tem Depois De Nós, a gravação dele ficou excelente, enfim... Conseguimos nos aproximar mais até do que a gente era próximos na época da banda, depois que eu saí... Mas eu não sinto que eu seja parte da banda até porque não é mais a banda, é o trabalho dele. Talvez um dia a gente volte para conseguir ser uma banda, talvez até mais do que a gente foi naquela época, quem sabe...

FMG: Este ano o Humberto está em turnê comemorando os 30 anos do A Revolta dos Dândis. A longevidade deste álbum te surpreendeu? Como você vê este álbum hoje?

CM: A Revolta dos Dândis é o disco que eu mais gosto da banda, para mim é o grande disco dos Engenheiros, o mais criativo, enfim, mais original, mais individual... E lógico que na época não imaginava que isso ia ter a dimensão que isso alcançou, isso eu não poderia imaginar na época. Mas me parece justo que esse disco seja um disco antológico do rock brasileiro porque ele realmente é muito bom.

FMG: Conte-nos sobre a formação da Irmandade e como foi virar cantor e frontman depois de tantos anos atrás de uma bateria.

CM: Na época que eu saí da banda eu estava com essas viagens de compor e de cantar, de fazer música e tal... Eu fiz essa banda Irmandade Interplanetária, depois eu vi que isso não tinha nada a ver, não é pra mim isso aí. Isso aí é uma vocação, não é só porque você está ali no palco que você pode ocupar qualquer posição na banda. Um frontman é uma vocação que algumas pessoas têm, não é o meu caso, mas eu precisei passar por isso para poder chegar a essa conclusão.

FMG: Como foi o trabalho de composição e a responsabilidade na época de escrever as letras e ser o “patrão” da banda?

CM: Essa pergunta de ser o patrão da banda é uma pergunta boa também, porque eu acho que serviu pra eu ver o seguinte: que quando o patrão é outro a gente acha que o patrão é um fascista, é um terrorista, sei lá o quê... Quando a gente se torna o patrão, a gente vê o quanto que a gente é capaz de ser mais fascista, mais terrorista do que aquele que a gente achava nosso opressor. Então pra mim serviu pra isso, ser o patrão serviu para eu ver o quanto eu poderia ser mais opressor do que aquele que eu achava que me oprimia.

FMG: Que fatores na época levaram a não continuidade do grupo?

CM: O Irmandade Interplanetária acabou basicamente porque eu vim morar em Brasília e a galera morava no Rio... Então ficou inviável a gente continuar, mas é uma coisa eu já estava entrando em outra fase da minha vida, outro momento, já estava com a minha atenção voltada para outros assuntos.

Engenheiros Acervo

FMG:
Como a Astrologia e a Psicologia surgiram em sua vida?

CM: Os estudos de Astrologia e Psicologia, que da minha maneira de ver são praticamente a mesma coisa, da maneira que eu trabalho com Astrologia, eu não a uso para adivinhar o futuro. Eu a uso como uma ferramenta de autoconhecimento. Eu sempre usei assim, eu sempre fui uma pessoa interessada nisso - em autoconhecimento - conhecer a mim mesmo. E isso com o passar do tempo começou a se tornar minha profissão, nem tanto que eu quisesse ser profissional disso, mas era a única coisa que eu sabia fazer além de tocar bateria e eu não pretendia tocar bateria com outras pessoas que não fossem a minha banda. Então eu acabei me tornando profissional disso, esses meus estudos de autoconhecimento me levaram a ser um profissional também para auxiliar outras pessoas a se conhecerem. Então sempre foi essa busca busca de conhecer a mim mesmo, esse que é o meu interesse.

FMG: Você quando se mudou para Brasília e começou a estudar Psicologia e a trabalhar com Astrologia imaginava ter encerrado sua carreira musical?

CM: Olha, esse negócio de carreira musical... Essa palavra “carreira” eu não uso essa palavra, eu não estou interessado em fazer carreira em coisa nenhuma, nunca estive... Nunca pensei que minha carreira começou, terminou, chegou no auge, depois foi para não sei onde... Eu sempre fui tocando minha vida, fazendo as coisas que estavam ao meu alcance para sobreviver, então eu nunca pensei que minha carreira nem começou, nem decolou, nem terminou, nem nada disso aí.

FMG: Como surgiram as letras que vieram a ser o álbum Farinha do Mesmo Saco?

CM: As letras que eu comecei a escrever, O Castelo De Destinos Cruzados foi a primeira. Eu fiz, achei bom, comecei a fazer mais outras também e depois eu achei que era melhor escrever livro (risos)... Eu escrevia letras de músicas que eram um verdadeiro tratado filosófico, eu pensei: “- Rapaz, acho que é mais adequado um cara que nem eu tentar escrever livro do que letras de música...” Isso aí também é uma coisa que a pessoa tem que ter um dom, então, coisas que hoje eu sei que eu não tenho, mas que na época eu achava que eu tinha.

FMG: O álbum conta com a participação do Humberto e do Zé Ramalho. Conte-nos como se deu estas participações e como foi estar novamente em um estúdio com o Humberto, mas como líder da banda?

CM: O Zé Ramalho, eu sempre fui fã dele... Mandei uma carta para ele uma vez, peguei umas coisas que estavam, alguns pedaços da letra de Vila Do Sossego e escrevi umas coisas em cima, ele gostou... Quando apareceu a oportunidade de fazer o disco eu convidei, ele topou, gravou, super simples... Não teve nenhum tipo de dificuldade, fácil, pessoa fácil, gravou lá tranquilo... E Humberto, também convidei e prontamente ele aceitou. E esses negócios como foi gravar sendo o líder da banda, nunca pensei nisso não... E diante de uma pessoa com o talento do Zé Ramalho, do Humberto, tem essa de “eu sou o líder, você não sei o quê”, uma coisa é quem tem um pouquinho de talento, que acho que é meu caso para a música, mas já tem talento o bastante pra reconhecer quem tem, e a gente coloca cada pessoa no seu devido lugar, então não tem nada de ser líder e dizer pra não sei quem como é que tem q fazer... Tem isso aí não, para mim o líder da banda é aquele que Deus deu mais talento para a música, então sempre q eu estou com alguém que tem mais talento que eu, o líder é ele, não sou eu (risos)... Então é dessa maneira q eu penso.

FMG: Quais são as inspirações para as suas letras?

CM: Inspiração, sei lá de onde é que vem... Inspiração não é, não vem daqui ou dali, inspiração é um estado de ser, é a gente poder ver alguma coisa que está acontecendo e poder conectar aquilo com algo maior do que isso que está acontecendo. E aí a inspiração de a gente poder ver onde é que está o maior, o eterno na nossa vida... Então a inspiração, ela pode vir de qualquer lugar. No meu caso, eu sou uma pessoa que olha para as coisas que estão acontecendo no mundo, a inspiração pra mim vem daí, das coisas que estão acontecendo no mundo.

FMG: Ainda há planos de um novo álbum? Você tem dois livros escritos, como surgiu esta veia de escritor?

CM: Eu estou sempre escrevendo, fazendo alguma coisa, tocando, enfim... Qualquer hora dessas vou gravar algo novo, escrevo um livro, sei lá, não fico pensando muito nisso, mas provavelmente fico sempre fazendo [algo].

FMG: Seu novo livro, O Último Rei do Rock, conta a história de um astro de rock decadente. No seu tempo de estrada você viu muitos Juans que serviram de inspiração?

CM: O Juan Leno Montonero Kempes, o personagem dO Último Rei do Rock, de certo modo eu acho que ele é, e existem muitos Juans... Eu sou sou um, talvez tenha sido um, mas eu acho que ele é um símbolo, não só de gente do rock, mas de alguma coisa que está acontecendo nessa época, que é a celebridade instantânea. Então acho que essa é a essência do Juan Leno, a questão da celebridade instantânea vamos dizer assim, mais do que até a questão do rock em si. Eu acho que ele é um símbolo disso.

FMG: O livro vem acompanhado de um novo single, fale-nos sobre a ideia de lançá-lo como promoção do novo livro. Há a ideia de um novo álbum?

CM: O pessoal da editora me pediu, se eu tinha material antigo, alguma coisa dos Engenheiros do Hawaii para a gente usar de brinde na promoção do livro dO Último Rei do Rock. Mas eu não tenho nada disso porque essas coisas eu passei para frente depois que eu saí da banda, dei tudo para os fãs, essas relíquias dos Engenheiros eu passei tudo pra frente, não sobrou nada aqui, a não ser eu (risos)... E então eu falei com eles: “-Olha, coisa velha não tem, mas eu posso fazer uma coisa nova, gravar um single novo e tal…” os caras acharam ótima a idéia e daí veio essa [música] Lanterna na Proa.

FMG: O single Lanterna na Proa tem alguma relação com o tema do livro ou mesmo o personagem?

CM: O Lanterna na Proa não tem nada a ver com o livro. A não ser o fato de que ela foi gravada para ser o single de promoção do livro, que era a música que eu tinha pra gravar. Não tem uma relação direta com o livro ou o personagem.

FMG: Como você vê o Rock feito hoje em dia no mundo e em especial no Brasil? Tem alguma banda que você ouve ou acredita que é o futuro do Rock?

CM: Olha, eu não escuto muito o que está sendo feito hoje na música, no rock... É mais por falta de tempo mesmo porque tem um monte de coisa para fazer, para ler, para estudar... Das bandas que têm por aí, gosto muito do Muse, acho que é uma banda que os caras são muito bons músicos, isso é importante, eles tem um um direcionamento estético muito bem definido, eles sabem o que eles estão fazendo e eles conseguem juntar a linguagem antiga e trazer de uma forma nova, que chega a ser bastante original, é uma banda que eu tiro o chapéu. O Muse pra mim é uma das grandes bandas que está por aí agora.

FMG: Para terminar, que mensagem você daria para os seus fãs e para aqueles que ainda sonham com a formação clássica GLM?

CM: Bom, então pra fechar, dizer para os fãs que a gente está atravessando um momento muito difícil. Isso não é só aqui no Brasil, isso é no mundo inteiro, porque nós estamos entrando num período novo. Nós estamos numa transição de Eras, e as pessoas até algumas pessoas dizem sim, mas sempre é uma transição. Sim, nós sempre estamos vivendo numa transição de uma coisa pra outra, mas nós estamos realmente, do ponto de vista astrológico, nós estamos entrando numa Era nova, num período novo e sempre é conturbadíssima a entrada. As pessoas imaginavam que a chegada da Era de Aquário, especialmente nos anos 60, que seria um paraíso na Terra mas isso tudo é bobagem, não tem nada disso aí... A chegada de um novo período significa caos, significa destruição da ordem anterior e as pessoas ficam muito desorientadas porque os próprios valores que guiavam a humanidade até pouco tempo atrás foram todos questionados e não se colocou nada no lugar. Então nós vivemos hoje um momento muito confuso, muito perturbador, muito assustador inclusive, e as pessoas até me perguntam porque eu fiquei conservador e tal... Mas, olha, numa época em que está tudo caindo aos pedaços sobra pouca coisa para você ser além de conservador, que é ser progressista numa época em que a civilização está descendo pelo ralo. Então eu digo para as pessoas, olha, procurem em outro lugar, o novo não está naquilo que a gente já conhece, o novo não está naquilo que era novo na década de 60. É um momento assustador sim, perturbador, mas procurem o novo onde não está aquilo que você já conhece, aí é que está o novo. O novo pode ser aquilo que você menos espera.
E também dizer que, olha, eu acho que nunca a gente, eu pelo menos nunca estive, tão próximo de querer voltar a tocar com os Engenheiros. É uma coisa que eu gostaria ainda, se a gente pudesse juntar os três e fazer uma turnê bacana mesmo, com som parecido com o que a gente fazia na época, mas renovado... Mas eu acho q não tem cabimento a gente ficar fazendo uma coisa de “museu” de nós mesmos, mas pegar aquele som, aquela qualidade que tinha na época e trazer para os dias de hoje uma turnê bem feita mesmo, bem tocada dos Engenheiros. Eu nunca tive tanta vontade de fazer isso quanto eu tenho hoje, acho que essa seria uma bela resposta dos Engenheiros do Hawaii ao que está acontecendo aí. Essa seria uma bela resposta nossa para todas essas pessoas que esperam alguma coisa de nós. Eu mesmo não presto muita atenção em posicionamento político de artista, artista geralmente quando se mete a falar de política, essas coisas, fala um monte de bobagem emocional. Eu acho que o artista tem a dizer com a arte, então fazer uma turnê bem feita, bem tocada mesmo, eu nunca tive tanta vontade de fazer isso quanto eu tenho hoje. Isso aí gente, até mais!

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Entrevista com Carlos Maltz (parte 1)

Carlos Maltz - Divulgação

Fanatic Media Group: Como foi sua formação musical? Qual a primeira lembrança de música que você tem? Você escolheu a bateria ou ela te escolheu?

Carlos Maltz: Bom, eu não tive formação musical propriamente dita. Eu comecei a tocar percussão por minha própria conta. Primeiro foi na Camisa 12 da torcida organizada do Inter, na charanga da Camisa 12 em 1976, eu tinha 14 anos na época. Então eu ia no estádio com meu avô nas cadeiras cativas até 75, até ganhar o primeiro campeonato brasileiro. Em 76 eu pulei para a arquibancada e fui para a Camisa 12 e me apresentei lá pra tocar na charanga, naquela época só tinha afrodescendente tocando na charanga, eu era o único branco. Mas tinha um tambor grande, um surdo de resposta chamado Sopapo, que ninguém queria tocar porque era muito grande. Então eles deixaram eu tocar, eu fui ficando e foi assim que eu comecei a tocar. Então eu não sei dizer se eu escolhi... Eu acho que mais foi uma coisa que estava lá desde sempre.
Quando eu comecei com os Engenheiros eu estudei um pouco de teoria de rudimentos por minha própria conta, mas muito pouca coisa, eu fui praticamente ­­- totalmente - autodidata. Eu comecei a estudar a técnica agora com 55 anos de idade e estou achando ótimo, mas naquela época não estudava.

FMG: Quais outras bandas você fez parte antes de tocar nos Engenheiros? Você chegou a tocar com o Thedy e o Stein do Nenhum de Nós?

CM: Com meus colegas do Colégio Israelita criamos a banda ContraRegra, no início dos anos 80. Além de mim, a banda contava com meus primos Rogério e Marcelo Bondar (irmãos entre si), Airton Seligman (primo dos Bondar) e Bernardo Stolnick (também primo dos Bondar). A banda mesclava diálogos teatrais, música latino-americana e rock. Se apresentava nos poucos festivais da cidade com músicas próprias. Um destes festivais, o Agrostock, toquei percussão na apresentação de Marcos Stein e Thedy Corrêa. A banda durou até quando viajei para Israel. Quando voltei, já estavam cada um na sua viagem.

FMG: Como foi que você conheceu o Humberto Gessinger e qual a primeira impressão que teve dele?

CM: A gente se conheceu na Faculdade de Arquitetura, éramos colega de curso e a gente juntou pra fazer um show só. Raramente ele aceitava os convites para beber nos bares da UFRGS, então todos o achavam arrogante. Mas no fundo sentia uma secreta admiração depois de ver alguns de seus trabalhos expostos na universidade. Vi ali que o Humberto tinha criatividade e era genial. Isto fez com que tirasse a carranca e me aproximasse.

FMG: Você já tinha experiência de outras bandas e de palco, o que o Humberto não tinha. Chegaste a dar algumas dicas para ele?

CM: Quando nós começamos eu realmente já tinha um pouco mais de experiência que o Humberto. Mas não precisou de dar dica nenhuma pra ele não, isso aí ele já nasceu sabendo.

FMG: Apesar de tão diferentes, você e o Humberto passaram a ser grandes amigos desde o início. A que você atribui isto?
     
CM: Eu e o Humberto, nós não éramos grandes amigos. Na verdade, a gente começou a ter mais amizade depois que eu saí da banda. Depois que a gente rompeu que fomos nos aproximando. Hoje eu acho que é o momento que a gente tem mais amizade de todo esse tempo, porque na época da banda a gente não era propriamente amigos. A gente tocava junto, mas a amizade veio depois, tá vindo.

FMG: Como foi a entrada do Marcelo Pitz na banda? Ele fazia parte de algum grupo de amigos em comum?

CM: O Marcelo Pitz entrou na banda porque ele era colega na faculdade e a gente queria montar a banda com pessoas da faculdade. Esse foi o motivo de ele ter entrado na banda, eu também, o Carlos Stein…

FMG: O Pitz chegou a influenciar o som mais ska do início da banda ou era apenas o que vocês conseguiam tocar na época, como já disse o Humberto?

CM: Acho que a presença do Pitz, não sei se a palavra certa é “influenciar”, é o som que a gente estava fazendo. A gente queria soar como uma banda da época. O Engenheiros passou a ter um cara mais  individual, uma característica mais da banda mesmo, depois com a entrada do Augusto nA Revolta dos Dândis.

FMG: A ideia de tocar jingles neste show foi por falta de repertório ou havia um conceito por trás?

CM: Essa pergunta é muito boa. Eu acho que sim, existia uma intenção artística grande por trás disso. A gente na época era estudante de Arquitetura e estudávamos autores pós-modernos no curso. Então isso era uma coisa bem conceitual, tocar esses jingles. Essa pergunta foi excelente, tinha essa intenção de colocar música comercial, jingles, essa coisa misturada com a música... Com certeza a gente tinha essa intenção aí.

FMG: Como era a relação de cada integrante e da banda com a cena local? O fato de tocarem mais no interior prejudicou a aceitação pela cena porto alegrense?

CM: A gente não tinha relação com a cena local... A gente era estudante de Arquitetura e nós éramos completamente fora da cena local. A nossa relação com a cena local era essa.

FMG: Como foi a decisão de continuar com a banda? Havia uma previsão de até quando ela duraria depois disto?

CM: A gente foi tocando e as coisas foram acontecendo, a gente não tinha a menor idéia... Sempre era o último dia, sempre a banda ia acabar amanhã. Essa era uma característica dos primeiros anos acho que até o Alívio Imediato, por aí, era assim. A gente achava que a banda ia acabar amanhã, sempre vivemos com essa perspectiva. Isso foi uma coisa muito importante nos primeiros anos e na liberdade que a gente se deu para fazer os primeiros discos.

FMG: Você acredita que o evento Rock Unificado e consequentemente a coletânea Rock Grande do Sul foram essenciais para que a banda tivesse tido uma carreira, ou acredita que isto teria acontecido independente destes eventos?

CM: Ah sim, o Rock Unificado e a coletânea foram fundamentais com certeza. Eu não entro nesse tipo de especulação: “se isso acontecesse aquilo”, “se não acontecesse”... Esse tipo de especulação eu não faço, se quiser pode fazer a vontade, eu mesmo não faço. Eu lido com as coisas que aconteceram mesmo.

FMG: O sucesso da banda logo no primeiro LP, Longe Demais das Capitais, e ter sido a banda que mais vendeu no selo Plug, surpreendeu na época?

CM: Com certeza, o sucesso da banda foi uma surpresa muito grande para nós, para a gravadora, para todos. A gravadora apostava nos Replicantes e nos Garotos da Rua, daquela coletânea. Para nós também foi uma surpresa, a gente não tinha essa pretensão. Para nós só o fato de estar gravando um disco já era lucro, a gente já achava que tinha ido longe demais.

G1 - Distrito Federal

FMG: A saída do Marcelo Pitz se deu por qual motivo? Chegou a haver boicote a ele?

CM: A saída do Marcelo Pitz é porque ele não aguentou conviver com a gente (risos)... A gente não tinha nada a ver, ninguém tinha nada a ver com ninguém. A gente começou a tocar juntos pra fazer um show e aí, quando foi ver, estava na estrada tocando juntos direto e ganhando disco de ouro, enfim... Então a gente não era assim uma galera que tocava junto desde sempre, que morava na mesma rua, que era amigo-não-sei-o-quê, não tinha nada disso... Então a gente, não sei como, conseguiu se aguentar tanto tempo. Eu e o Humberto a gente se aguentou dez anos, o Marcelo aguentou um ano só, foi o tanto q ele conseguiu.

FMG: Logo após a saída do Pitz a sonoridade mudou por completo e se enquadrou mais às preferências pessoais na época suas e do Humberto. Quanto a saída dele influenciou este novo rumo?

CM: Então, o Marcelo saiu e aí o Humberto começou a tocar o baixo. A gente ficou ensaiando eu e ele só, e ele começou a tocar o baixo. Claro que tudo isso influenciou, essas coisas não são tão premeditadas assim, a gente olhando daqui pra trás a gente vai fazendo essas ligações racionais e lógicas como se fossem coisas intencionais na época e não foram, foi como as coisas foram acontecendo... Então você vê que a própria linha, o jeito que o Humberto tocava baixo, era um guitarrista tocando baixo. Ele fazia linhas melódicas: primeiro que ele era guitarrista mesmo e segundo que era só baixo e bateria durante algum tempo até a chegada do Augusto. A gente ensaiou assim, a banda era eu e ele, então o baixo tinha que preencher esse espaço melódico, também isso. É mais como as coisas aconteceram, com a naturalidade que elas foram acontecendo.

FMG: É verdade que a escolha dos estúdios em São Paulo, desde a gravação das músicas para a coletânea Rock Grande do Sul, contribuiu para o sucesso da banda por estar longe da matriz?

CM: O fato de a gente estar em São Paulo com certeza contribuiu para que a gente tivessse mais liberdade e espaço para fazer o que a gente queria. Mas a escolha não foi nossa, isso aí foi a gravadora que escolheu. Mas com certeza teve influência sim, no sentido de a gente ter tido mais liberdade de criação, espaço para fazer o que a gente bem entendia.

FMG: Qual a história do nome da banda e de quem foi a ideia?

CM: O nome da banda foi idéia do Humberto porque era uma coisa do bar, ali da Faculdade de Arquitetura. Tinha que arrumar um nome pra banda pra fazer aquele único show que seria na faculdade, teria que ser um nome adequado para aquele show. Engenheiros do Hawaii era o nome da banda que ia tocar naquele show que a gente imaginava que seria o último, único da banda. Então esse nome, a gente jamais teria dado um nome desse se soubesse até onde que a banda iria chegar. O que eu acho que foi uma coisa muito boa também, que tenha acontecido dessa maneira.

FMG: O trabalho gráfico foi uma marca dos Engenheiros do Hawaii nos primeiros anos. Como surgiu a ideia da engrenagem e da trilogia de capas?

CM: A idéia da engrenagem foi minha, porque meu pai era Engenheiro Civil. Ele era sócio da Sociedade de Engenharia, recebia uma correspondência de lá. Um dia chegou uma carta e tinha um logotipo que era uma engrenagem bem parecida com a que a gente usou na capa do [disco] A Revolta dos Dândis. Nós estávamos ensaiando e chegou essa carta, foi mais ou menos na hora do ensaio e tal... Eu vi a carta e pensei: “- Pô, podia ser nosso logotipo...” foi mais ou menos assim.
CM: A trilogia foi coisa do Humberto também, a gente fez o primeiro disco, depois fizemos o amarelo... E aquele disco amarelo, eu acho que ele deu origem. O fato dele ser amarelo que deu a idéia de fazer um vermelho e um verde. Eu não sei exatamente como isso aconteceu, mas enfim, não foi uma coisa tão premeditada assim. Primeiro apareceu A Revolta dos Dândis com aquela capa, com aquele amarelo... Tinha mais a ver com placa de estrada, aquela coisa da highway, porque era um estética de placa de estrada. Eu lembro que a gente falou isso com os caras que fizeram a capa pra nós, que eram colegas nossos lá da [Faculdade de] Arquitetura, que o disco tivesse uma estética de placa de estrada e depois disso veio a trilogia.

FMG: O Lulu Santos após o lançamento do Papa é Pop se sentiu chateado por ter sido chamado de entertainer em uma entrevista comparando-o ao Silvio Santos. Mesmo depois disto ele foi cogitado a produzir o álbum GLM? É verdade que foi o trabalho mais tenso da banda em estúdio? Fale-nos desse trabalho que muitos consideram o auge técnico da formação.

CM: O Lulu Santos é uma pessoa que a gente respeita muito, sempre respeitou. Inclusive quando o Humberto falou essa questão do entertainer não estava falando de forma pejorativa, tanto que depois do Papa é Pop ele faz todo o reconhecimento ali ao Lulu e tal... Uma pessoa que eu tenho a maior admiração é o Lulu Santos, pelo trabalho dele.
O GLM começa pelo nome do disco, já começa com essa coisa dos nomes, acho que é um disco que a gente estava cada um isolado na sua viagem de ego. É uma coisa natural isso ter acontecido devido à vida que a gente vivia, o sucesso que a banda fez, enfim, à condição que a gente tinha para suportar esse tipo de coisa. Então na verdade nem chegou a ser tenso porque a gente nem se encontrava muito no estúdio. A gente já estava assim num momento que era difícil de nos suportarmos... O nível de intensidade de pessoas que nós somos e a intensidade com que a gente vivia era meio inevitável que a gente chegasse num ponto que não pudesse nem mais ver a cara do outro, como aconteceu na época da gravação desse disco, o GLM.

FMG: Chegou a haver realmente um racha interno com o Augusto sobre uma turnê acústica do álbum Filmes de Guerra, Canções de Amor?

CM: A questão do racha interno da banda, olha, é tão difícil explicar isso, o porquê que a gente rachou, o porquê que a gente se separou... Não tem motivos assim muito pontuais para isso: “é uma diferença de gosto musical”, “não sei quem queria conduzir a banda para uma direção mais não sei o quê”, não tem nada disso aí, as pessoas viajam muito... A verdade é que não se aguentava mais, essa é a realidade (risos)... A gente era muito intenso, o ritmo, a gente fazia quatro shows por semana, três shows por semana toda semana, durante dez anos, gravamos dez discos e ganhamos dez discos de ouro... É um nível, e somos pessoas muito intensas também, não somos pessoas muito sociáveis, não somos pessoas muito sociáveis, nem um de nós... O Augusto é até um pouco mais brando, mas eu e o Humberto somos pessoas que não somos de andar em turma com ninguém, nem temos muitos amigos pra ir pra lá e pra cá, então eu acho q é isso, eu me surpreendo de a gente ter se aguentado tanto tempo assim...

FMG: Na época da saída do Augusto, ele falou que a banda havia se tornado um apoio para a carreira solo do Humberto. Um disco depois você deixa a banda por questões ideológicas. Realmente na época ele monopolizou as criações e o conceito da banda?

CM: Sempre a banda foi a banda do Humberto, isso aí não tem nenhuma novidade. Ele realmente é um talento criativo muito maior do que nós, é natural que isso fosse assim. Sempre foi a banda dele, tanto que depois que ele saiu, montou outras bandas dele e tal... Então isso aí pra mim não tem dificuldade nenhuma de compreender. Assim, eu sou totalmente contra a democracia na arte, eu sou totalmente contra o socialismo na arte. O socialismo só produz lixo em termos de arte, as pessoas não são iguais, os talentos não são iguais, o talento é Deus quem dá pra quem ele quer e dá o tanto que quer e a gente que arrume um jeito de aguentar isso. E quem quiser tocar com uma pessoa muito genial, como é o caso do Humberto Gessinger, tem que ter humildade pra se colocar no seu devido lugar. Então na época eu não tinha isso, é uma coisa que eu reconheço hoje.

FMG: Após a saída do Augusto, o Horn foi efetivado como guitarrista da banda, mas para a gravação do álbum Simples de Coração a banda foi complementada pelo Deluqui e pelo Casarin. O Horn não estava preparado na época para uma banda do porte dos Engenheiros? Como surgiram os nomes do Deluqui e do Casarin e a decisão de colocá-los na banda?

CM: Ninguém estava preparado para substituir o Augusto à altura, ninguém nunca esteve, ninguém nunca substituiu ele à altura. Tanto que a gente teve que colocar dois guitarristas e um tecladista para substituí-lo e mesmo assim acho que não foi suficiente. Eu acho que o trabalho dele era muito melhor do que esses outros três juntos, não que esses caras não fossem bons músicos, o Casarin, Fernando Deluqui... Mas é que o guitarrista dos Engenheiros era o Augusto, fazer o quê?